Contos, crônicas e cartas

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sábado, 16 de abril de 2011

* A Thereza Falcão

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SP 02.03.90


Thereza,
sua carta me deixou feliz. Não se preocupe com não-respostas ou longos silêncios. Sou a pessoa mais indicada para compreender esse tipo de coisa. Pior são as cartas que escrevo, juro que mandei, depois de um tempo encontro em algum lugar.

Gostei de tudo que você conta sobre As frangas - a idéia da camiseta é ótima! -, só fico torcendo para que tudo dê certo. E no que for necessário, conte com a minha ajuda. Ando com As frangas - Parte II: a missão engatilhado pra escrever. Tenho frangas novas, como a Cassandra, que tem olhos maquiadíssimos (tipo Liz Taylor em Cleópatra) e é chegada numa magia, a Berenice, gaúcha, com penas de verdade e olhos de lantejoula vermelha, e até alguns frangos, o Antonio Pedro de Almeida Prado, fazendeiro gordo e solteirão, do interior de São Paulo, dividido entre o amor (fiel) de Ulla e o amor (galináceo) de Otília, muito mais interessada naqueles campos todos de Ribeirão Preto. Tem também o Pink Punk, que esconde furiosamente ter nascido em Assumpción, Paraguai, mente que é inglês e tem um visual moderníssimo, parece desenhado por Picasso.

Das antigas, que uma época foram mandadas para Porto Alegre, numa das vezes que fiquei em casa, desapareceu a Juçara. Decidi que está na Amazônia, claro, muito envolvida com ecologia e o Santo Daime. Blondie também sumiu: foi fazer um tour de rock pelo mundo, cantando no backin vocal.

Tenho a impressão que, a hora em que sentar para escrever, simplesmente sai. Só que enlouqueci e comecei a escrever um romance. Na verdade eu vinha trabalhando nele desde 1985, de repente uma tarde, numa fila de banco, de repente fez click! E ficou pronto na minha cabeça. Tenho escrito todo dia. Como quem carrega pedras, naquela neurose de querer a perfeição. Até maio deve estar pronto. Pelo menos uma primeira versão.

No meio disso, continuo dirigindo um laboratório de criação literária, nas Oficinas Oswald de Andrade, fazendo resenhas de livros para O Estado, e tentando sobreviver de 10 mil maneiras. Repito que não vão acabar comigo.

Haja fé.

Como disse - acho que disse - da outra vez, confio plenamente na sua adaptação.

Na seqüência, conte comigo para o que for preciso.

Dê um beijo no Marcelo por mim. Andei ligando para ele algumas vezes - mas estava sempre ocupado ou ninguém atendia.

Frangas adoram ficar penduradas no telefone.

É isto, espero que você esteja conseguindo dar conta de todos esses trabalhos.

Muito carinho, um beijo


................................................................................................Caio F.


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